Ambição: A raiz de todas as vitórias

 

HSM Management 52 Setembro-Outubro 2005

 

Os especialistas James Champy e Nitin Nohria dizem que não há liderança sem ambição. Na ausência dela, qualquer grande empreendimento é impensável. Trata-se da razão pela qual as pessoas se lançam na conquista de seus sonhos.

 

Sua meta pode ser grandiosa -transformar-se em um magnata dos negócios, ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, escrever um livro do qual todos falem - ou mais modesta - dirigir uma empresa, ensinar algo apaixonante, treinar um time de futebol amador. Qualquer que seja seu objetivo, você está inexoravelmente impulsionado pela ambição, a energia humana que orienta nossos esforços e dá forma a nossas conquistas.

 

A ambição é, ao mesmo tempo, uma meta e um estímulo - em outras palavras, a compulsão por lutar por alguma coisa que valha a pena. Sem ela, qualquer grande empreendimento é impensável. A ambição é capaz de mudar tudo. Ela tem dominado continentes e criado civilizações; construído catedrais e derrubado déspotas; curado enfermidades e levado o homem ao espaço. Pode transformar uma idéia simples em uma empresa mundial. É a força que coloca em movimento quem persegue objetivos audazes e que transforma o medíocre em extraordinário.

 

A ambição mobiliza indivíduos intrépidos que percebem o que ninguém percebeu e conseguem alcançar o que ninguém pensou que poderia ser conseguido. Ao cruzar o oceano Atlântico pela primeira vez, o aviador norte-americano Charles Lindbergh deu impulso às companhias aéreas no mundo inteiro e prefigurou a exploração do espaço. Ao organizar pela primeira vez uma linha de montagem, Henry Ford deu o passo inicial para a indústria automobilística mundial e suas profundas conseqüências econômicas.

 

Esses e outros ambiciosos realizadores têm muito a nos ensinar. Em princípio, seus desafios não foram diferentes dos que hoje tem pela frente qualquer pessoa que aspire à grandeza. No entanto, a busca da grandeza se defronta agora com um fenômeno inédito até poucos anos atrás: a ambição e as conquistas nascem e morrem hoje a uma velocidade sem precedentes. Essa nova condição de efemeridade é resultado de uma espécie de onda sísmica que sacode o mundo cada meio século e reinventa nossas vidas.

 

Nos Estados Unidos, a primeira mudança tecnológica aconteceu desde o início da Guerra de Secessão até 50 anos depois dela: a explosão da indústria e das ferrovias, que dominaram o continente e transformaram o país numa potência mundial. O principal ganhador? Um punhado de ambiciosos oportunistas, indivíduos que ascenderam diretamente da pobreza para a plutocracia: Andrew Carnegie, Philip Armom eJohn D. Rockefeller, entre outros.

 

A segunda revolução tecnológica surgiu no começo do século 20, com as técnicas de produção em massa de Henry Ford. Seu Ford Modelo T apoderou-se da indústria automobilística, que logo desafiaria a das ferrovias e daria origem a uma florescente indústria do petróleo.

 

O terceiro ponto de inflexão tecnológico dos EUA nasceu da convergência das tecnologias de informação e das comunicações, dando lugar à economia da informação, respaldada pela internet em um mundo hoje conectado ao instantâneo. Como outros desdobramentos em seu momento, o computador transformou a natureza do trabalho, introduziu um ganho de eficiência extraordinário nos países avançados e infundiu em outros a ambição de seguir os mesmos passos.

 

No entanto, esse progresso, embora desencadeie grandes avanços de alta tecnologia e enormes oportunidades, também acelera o ritmo das pressões competitivas e corporativas.

 

O crescimento é tão rápido que setores inteiros parecem aglutinar-se em um ano e tornar-se obsoletos no ano seguinte. O ciclo médio de vida das empresas mais sólidas agora se reduziu para menos de 15 anos, metade do que era na década de 1950.

 

Além dos negócios, outros aspectos da sociedade se modificaram profundamente. Em uma geração, a medicina mudou de forma radical. Hoje o diagnóstico depende de grande variedade de exames, como tomografia computadorizada, ressonância magnética e outras tecnologias sofisticadas.

 

Os artistas usam imagens de computador em seu trabalho. Os atletas profissionais treinam observando seus rivais na tela de um computador.

 

Essas novas ferramentas não só nos obrigam a modificar nosso presente, como também fazem com que o passado seja, em boa dose, inutilizável e o futuro desconhecido. Com freqüência, parecemos presos entre duas opções: esconder-nos (e fracassar) ou improvisar com audácia (e confiar). A Microsoft escolheu a segunda opção. Como admitiu um de seus primeiros funcionários: "Vendíamos promessas".

 

Os arquétipos da ambição

Embora o contexto histórico mude constantemente, cada novo cenário traz as próprias versões das três formas arque típicas da ambição:

 

 

 

 

 

As forças que estrangulam a ambição

 

Hoje, quando as forças da destruição criativa são mais potentes do que nunca, o sucesso exige uma ambição de excepcional intensidade. Contudo, as empresas continuam lideradas por executivos cautelosos, que andam ao ritmo da estratégia, da estrutura, dos controles financeiros -e a ambição fica esquecida no caminho.

 

Afortunadamente, os ventos da mudança favoreceram uma nova "raça" de empreendedores no mundo dos negócios. Até que ponto o espírito que os guia poderá reformular o management? Essa é uma pergunta ainda sem resposta, porque, assim que as empresas geradas pela ambição crescem e se tomam difíceis de gerenciar, costumam desenvolver anticorpos corporativos capazes de matar a ambição que ajudou a concebê-Ias.

 

O que acontece com a sociedade quando a ambição perde força? Uma possibilidade é que, com o tempo, as empresas e os indivíduos que as mantêm ardentes formem um grupo cada vez menor e, ao mesmo tempo, mais poderoso do que nunca, o que os tornará capazes de controlar o mundo.

 

É claro que acreditamos que conquistas extraordinárias merecem recompensas extraordinárias. No entanto, a história demonstra que, se a riqueza ou o poder se concentram demais em poucas instituições ou pessoas, os resultados são, em geral, a arrogância, o abuso e, finalmente, o fracasso.

 

A boa e a má ambição

 

Nenhuma sociedade pode dar-se ao luxo de menosprezar a ambição, especialmente agora, que a tecnologia promete oportunidades inéditas.

 

A boa ambição é o sangue que nutre o progresso humano. Talvez a mais valiosa seja a que nos leva a tirar o melhor proveito de nossos talentos, ou a que se traduz em algo benéfico, seja uma lei justa ou um produto excelente, ou, então, a que agrega valor a uma empresa ou comunidade.

 

A boa ambição exige criar riqueza de uma maneira que beneficie e inspire os demais. Para os novos (e, com freqüência, inesperados) ricos de nossos tempos, há histórias exemplares do passado: John D. Rockefeller, que fundou uma instituição de pesquisa social; Andrew Carnegie, que criou 2,8 mil bibliotecas públicas; Leland Stanford, que financiou uma universidade; e inúmeros filantropos menos conhecidos.

 

O dinheiro gera poder, que pode ser uma força voltada para o bem ou não. Quem o tem deve precaver-se sempre, porque sua influência corrompe. A humanidade carrega uma longa lista de indivíduos que abusaram do poder que tiveram, de Ivã o Terrível a Saddam Hussein, passando pelos executivos que ainda acreditam que o terror é um método de gestão. Os autoritários que utilizam o poder para dominar os outros representam o lado mais obscuro e aterrador da ambição.

 

Como aproveitar o arco da ambição

Quem se destaca por suas conquistas, em uma empresa ou na vida, avança por uma série de etapas que parece traçar um arco da ambição. Entender a trajetória desse arco é a chave para aproveitar a ambição que cada ser humano possui:

 

·                    Ver o que os outros não vêem. A ambição começa com uma descoberta, uma percepção invisível para outros e talvez nunca imaginada. Isso é o que se pode aprender com as trajetórias dos irmãos Wright, inventores do avião [segundo a história oficial norte-americana], ou de Michael Dell, que fez de um hobby universitário uma empresa gigantesca de porte mundial. Nesses casos, o que conta é o sonho disciplinado, a fé em que um esforço feroz transformará a sombra em substância.

 

·                    Seguir um caminho com constância. Na mente de uma pessoa ambiciosa, um sonho pode tomar-se instantaneamente realidade. Na vida real, o sucesso costuma ser resultado de uma série de reveses superados. Os sonhadores dão passos em falso, atravessam fracassos, driblam o azar. "Tudo que eu tenho é obstinação" confessou certa vez Albert Einstein, talvez para ouvidos incrédulos. Para avançar no arco da ambição, é preciso ter perseverança e otimismo.

 

·                    Aproveitar a ocasião. Os sonhadores se transformam em potenciais fazedores quando dão mais um passo no arco da ambição: esse momento incandescente no qual a oportunidade aparece de forma repentina - como o Everest entre as nuvens - e eles respondem com coragem e desenfado. Duvidam apenas o suficiente, como para se certificar de que não estão alucinando, e se sentem invadidos por um impulso incontrolável: conquistar. Sam Walton é um excelente exemplo. Quando a sorte conspirou para fazer com que perdesse sua crescente cadeia de lojas Ben Franklin (os donos decidiram não renovar a franquia), Walton aproveitou o momento para lançar o próprio conceito de comércio varejista, que com o tempo se transformou no Wal-Mart.

 

·                    Suavizar a ambição. A etapa seguinte, chegar ao topo, exige ganhar impulso sem perder o equilíbrio. O requisito-chave, aprendido de líderes como Herb Kelleher, fundador da Southwest Airlines, consiste em definir metas ambiciosas, mas compatíveis com uma execução disciplinada. A Southwest tem sido a companhia aérea mais rentável dos Estados Unidos nos últimos 20 anos.

 

·                    Inspirar com um propósito superior. Para seguir ascendendo pelo arco, é necessário transformar a ambição pessoal em um propósito mais amplo, de tal modo que outros se unam ao projeto e dêem sua contribuição. Esse passo não é fácil para os indivíduos ambiciosos. Muitos deles vêem o mundo como um jogo de soma zero, em que os demais têm de perder para eles ganharem, e não entendem a idéia de que as vitórias são mais seguras quando os benefícios são partilhados.

 

·                    Não violar os valores. Chegará um ponto no qual, para avançar, você será tentado a tomar atalhos, a transigir para satisfazer sua ambição. Cuidado com essa tentação, porque ela apenas acelerará a curva descendente de seu arco da ambição. Não rende frutos ser desonesto, pouco ético ou abusivo, como também não pode uma organização sustentar por muito tempo repetidas violações de seus valores centrais.

·                    Manter o controle partilhando-o. Se você lidera uma organização, precisará de pessoas que dêem o melhor de si para alcançar as metas estabelecidas. Não conseguirá seu objetivo se exercer o controle pela força ou com ameaças. A única maneira de manter o controle é partilhando-o com os outros. Os executivos mais inteligentes sabem que só podem beneficiar-se se seus colegas fizerem um grande trabalho. Têm suficiente confiança em si mesmos para não se sentirem ameaçados pela prosperidade alheia.

 

·                    Mudar ou morrer. As condições que formam o arco da ambição não são eternas. As coisas mudam, o ambiente externo torna-se menos favorável, você fica mais complacente, os outros o imitam. Rivais inesperados, tão ambiciosos quanto você já foi um dia, encontram um modo de alterar as regras e destruir criativamente as coisas que você fez para durarem. Se quiser permanecer no arco, você precisa mudar - ou morrerá.

 

·                    Retirar-se com dignidade. O poder de ter conseguido algo grande e a ânsia de deixar um legado imortal podem fazer com que seja difícil aceitar a mais autêntica das verdades humanas: todos somos mortais. Os ambiciosos bem-sucedidos continuam buscando a fonte da juventude e pensam que, agindo como jovens, permanecerão jovens. É comum que fiquem obcecados pela idéia de que a organização não pode sobreviver sem eles.

 

A última passagem do arco exige reconhecer que a ambição nos permite atingir a imortalidade na história, mas não em nossa vida. A única maneira aceitável de enfrentar isso é abraçar a verdade, com toda a dignidade, estilo e humor que caracterizam um grande líder.

...............................................................................................................................

imprimir | Download

...............................................................................................................................