A palavra intuição vem do latim intuire, que significa ver por dentro. É dessa forma, uma sabedoria interior, uma inteligência que permite resoluções ou elaborações por meio da visão interior, embora o conceito de intuição varie um pouco conforme a linha de pensamento. Para Jung, a intuição é uma capacidade interior de perceber possibilidades, enquanto que o filósofo Emerson a considera uma sabedoria interior que se expressa por si própria. Kant vê a intuição como o conhecimento que se relaciona imediatamente com os objetos, que mostra realidades singulares e que não dependem da abstração, ou seja, aquilo que se sabe, sem precisar deduzir para concluir. Kaplan diz que a intuição é, provavelmente, uma condensação de uma ou mais linhas de pensamento racional, em um único momento, em que a mente reúne rapidamente uma gama de conhecimentos e passa para a conclusão, que é a parte do processo que ele recorda. Muitas vezes, a intuição condensa anos de experiência e de aprendizado num clarão instantâneo.
Quando nos remetemos ao conceito de Kaplan, a intuição passa a ser algo que nos é revelado num certo momento, por insight. Isso implica em um processo, que inclui raciocínios anteriormente elaborados e com seqüência lógica. Como esse processo se passa de forma inconsciente, temos a impressão de que é atemporal, quando na verdade se trata apenas da conclusão súbita de algo que já estava sendo elaborado.
Pelos conceitos expostos acima, vemos que a intuição pressupõe uma condensação de conhecimentos e raciocínios lógicos, que são revelados subitamente. No entanto, mesmo tendo fundamento lógico, isso não quer dizer que a intuição esteja sempre certa. É, como nos coloca Jung, uma forma de se prever possibilidades. Por maior que seja a possibilidade de algo ocorrer, ainda assim, existe a possibilidade de não ocorrer. Muitas pessoas se arrependem, por vezes de não terem seguido sua intuição, em determinados momento da vida. Porém, o arrependimento é fruto de um resultado insatisfatório. Será que, se o resultado fosse satisfatório elas se lembrariam que não seguiram a intuição, admitindo para si mesmas que a intuição estava errada? Concluímos que, por condensar uma série de conhecimentos, a intuição tem grande probabilidade de estar certa, mas isso não significa que estará sempre certa! Outra questão é quanto ao fato de confundirmos medos, pressentimentos e até mesmo superstições com intuição.
É
necessário considerar as diferenças entre intuição, insight,
pressentimento e presságio. Enquanto que, para Jung, a intuição é uma
capacidade de prever possibilidades, insight é a forma pela qual a
intuição é revelada, ou seja, a súbita tomada de consciência do
conhecimento intuitivo. O pressentimento seria uma impressão ou
sentimento de que um fato irá ocorrer. Já o presságio é um fato a
partir do qual se supõe que ocorrerá um evento não relacionado a ele,
ou seja, o que se costuma chamar de sinal.
Como exemplo, suponhamos que você está no aeroporto, prestes a embarcar,
quando subitamente é tomado por um pensamento ou idéia de que ocorrerá
um acidente com o avião. Que elementos o levaram a ter esse pensamento?
Você pode, por exemplo, avaliar consciente ou inconscientemente que o
tempo está ruim, perceber que há certa confusão no aeroporto,
desorganização e apreensão por parte das pessoas que lá trabalham, de
forma a intuir que existe maior possibilidade de que ocorra um acidente.
No entanto, é apenas um conhecimento interno sobre possibilidades, não
significa que um acidente irá ocorrer. Isso, aliado ao seu medo, pode ser
interpretado como um pressentimento. Se ocorrer algo diferente, por
exemplo, um atraso ou derrubar café na roupa e isso for interpretado como
um sinal de que você não deva viajar, então se trata de presságio. Um
presságio, ao contrário da intuição, não tem nenhum fundamento
lógico e se baseia mais em medos e superstições do que em conhecimentos
anteriores ou observação de fatos.
Saindo do campo meramente racional, podemos também incluir outras possibilidades de se adquirir conhecimento: a partir do inconsciente coletivo; de trazer conhecimento de vidas passadas e também a questão da transmissão mediúnica, ou seja, a partir de entidades espirituais. Infelizmente, não temos como saber se essas intuições provêm realmente desses meios ou se consistem em criações mentais do próprio sujeito, ou seja, de seu inconsciente. No entanto, é importante enfatizar que inúmeras pessoas íntegras, equilibradas, honestas e sensatas têm habitualmente esse tipo de intuição e que, em muitos casos, sabem diferenciá-las daquelas provenientes de seu interior.
Com freqüência as pessoas indagam sobre uma "comprovação" científica de certos fenômenos e, dessa forma, questiona-se muito se há ou não "provas" para a existência da intuição. É importante ressaltar que a Ciência Positivista só permite avaliar os dados observados objetivamente. Dessa forma, a intuição não pode ser estudada pelo método científico convencional, por ser um processo eminentemente interno. Cabe, portanto à Filosofia. No entanto, o fato de não poder ser estudada pela Ciência não significa que não seja aceita pelos cientistas. Ao contrário, são muitas as histórias a respeito de teorias científicas que se iniciaram a partir de uma intuição, para ser testada pelo método científico, num segundo momento. Encontramos vários exemplos em livros que tratam de História da Ciência e também em algumas publicações de Filosofia.
É importante lembrar que mesmo os cientistas mais cartesianos usam a intuição e um enorme potencial criativo. A parte de observação objetiva e racional da pesquisa ocorre após a elaboração de um problema ou teoria, geralmente iniciado por intuição.
De um modo geral, as pessoas criativas são mais intuitivas e têm facilidade de entrar em contato com as emoções e com a imaginação. Processam rapidamente as informações, relacionando automaticamente as experiências passadas às informações importantes e ao momento presente.
Muitas vezes a educação formal bloqueia a manifestação do lado intuitivo / subjetivo do sujeito porque na escola convencional, na qual uma autoridade transmite o saber, valoriza-se muito mais a parte racional / objetiva. A princípio poderíamos pensar que essas duas partes são opostas e que teríamos de optar por uma delas. No entanto, observamos que ambas as partes são necessárias e se complementam. O que devemos evitar é o bloqueio dessa parte intuitiva e criativa, que é interna e subjetiva.
Para desenvolver a intuição, algumas medidas são necessárias. Como dissemos no início, a intuição é uma condensação de conhecimentos anteriores, assim é fundamental aumentar a quantidade de conhecimento por meio de leituras diversas e das mais variadas formas de aprendizagem. Assuntos e experiências diferentes possibilitam aumentar as possíveis linhas de raciocínio que culminam na intuição. Entenda-se por experiência tudo o que é vivido e observado, tanto dentro como fora de si mesmo.
Outro ponto importante é aprender a diferenciar o que é uma experiência objetiva de uma subjetiva. Uma experiência objetiva é aquela que pode ser compartilhada por outras pessoas, como, por exemplo, observar um objeto e descrevê-lo (forma, cor, tamanho etc.). A experiência subjetiva depende de valores, crenças e afetos do observador, por exemplo, se o objeto observado é feio ou bonito, se provoca sentimentos agradáveis ou desagradáveis, se faz lembrar de outro objeto ou de um fato etc. Para isso, entrar em contato com seu mundo subjetivo é essencial. A psicanálise é uma das técnicas que permite esse tipo de autoconhecimento, estimula o imaginário, bem como as associações e a percepção interna.
Também estimulamos a intuição e a criatividade por meio da observação e da expressão artística. Ouvir música, prestando atenção às emoções que ela nos provoca, assim como ir à museus e exposições são excelentes formas para iniciarmos o desbloqueio da intuição. Num segundo momento pode-se partir para a expressão artística, cantando, tocando instrumentos, pintando etc.
Assim, acreditamos que exercícios e um certo treino podem facilitar os insights, ou seja, que o conhecimento intuitivo aflore, aumentando também nosso potencial criativo.
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