Karma - O Destino em nossas mãos
O Budismo é uma filosofia universalmente conhecida por considerar a atitude humana como base para a transformação do destino pessoal e coletivo, sendo assim para nós o Karma não é uma fatalidade e não tem começo nem fim.
O primeiro a falar do Karma foi o hinduísmo, mais ou menos 200 anos antes
do nascimento do budismo.
O primeiro conceito budista de Karma apareceu no V século d.c. com Vasabandhu (estudioso e filósofo budista). Conhecido como o filósofo das 1000 obras (500 hinayana e depois da sua conversão, 500 mahayana). Foi ele quem expôs o conceito de Alayavijnana (depósito Alaya das percepções) com a obra Yushiki-sanju-ron. Ele percebeu intuitivamente a presença de uma consciência que funcionava como depósito de todas as nossas experiências (um verdadeiro depósito do Karma).
Todas as experiências passadas deixam "Sementes" na consciência Depósito (Alaya ou 8ª) e estas quando vêm provocadas por estímulos externos, colocam suas "raízes" no presente.
Sendo assim não existe nenhuma possibilidade que o Karma possa falhar. As nossas ações nos deixam heranças, nenhuma delas desaparece sem deixar seus traços. Não existe nenhuma ação que não tenha mais cedo ou mais tarde, os seus efeitos.
O que é o Karma ?
O Karma é um conjunto de ações feitas, ou mais amplamente, o Karma é o comportamento, o caráter da pessoa, visto que as ações podem ser espirituais, verbais ou físicas. Nada é neutro para a Lei de causa e efeito.
O Nascimento do Karma
Os efeitos dessas três ações, não desaparecem. Permanecem na nossa vida como energia latente (ou seja, pronta a se manifestar quando aparecer a ocasião justa). Este efeito é chamado de Karma Latente.
Esta energia latente, ou Karma Latente, ou Causa Cármica não tem etiqueta com a data do vencimento e como dissemos, permanece inalterada na sua potência, e depositadas na 8ª consciência, esperando o estímulo correto para que se possam manifestar.
Desvendando o Karma
O Karma pode ser positivo ou negativo.
Podemos pensar em alguns aspectos que podem nos ajudar a compreender que características de nossas ações são mais relevantes.
Intensidade da ação
· O ódio feroz produzirá um efeito maior que uma antipatia!
Profundidade da ação:
· Causa negativa: O peso aumenta se o pensamento se transforma em
palavras, e aumenta mais se as palavras se transformam em ações. Ex. Odiar
é um fato negativo, mas destruir o objeto do nosso ódio é muitíssimo pior.
· Causa positiva: O peso maior está na intenção. Ex. Na ação de se
oferecer algo à alguém, não é importante o valor material daquilo que
doamos, mas sim o ato em si da doação.
Outras características que compõem o Karma:
· Tendência das manifestações do nosso Karma para ser pesado ou leve.
· Tendência das manifestações do nosso Karma para ser forte ou fraco.
· Tendência das manifestações do nosso Karma para ser profundo ou
superficial.
Podemos observar nosso Karma diante de outros fatores como:
· Personalidade. Ex. Tendência das nossas ações (de agir de modo justo ou
injusto).
· Relacionamentos. Ex. Que tipo de pessoas nos relacionamos.
Por que sofremos?
Examinando os sofrimentos (sejam físicos ou materiais), percebemos que eles nascem dos 3 venenos: avidez (avareza) - estupidez (ignorância) e cólera (raiva). Os desejos mundanos e os sofrimentos produzidos por eles, estão diretamente ligados ao Karma, que acorrenta as pessoas ao reino do sofrimento.
No Sutra de Lótus nós podemos ler a seguinte afirmação:
· Os desejos mundanos não devem ser eliminados, mas sim transformados em iluminação.
Os desejos mundanos, o Karma e o sofrimento são chamados de Os três Caminhos. Estes caminhos se entrelaçam, um leva o outro, um é a causa do outro num círculo vicioso que parece não ter fim, ou melhor, parece que não podemos fazer nada para mudá-lo.
Podemos entender esse círculo vicioso da seguinte forma:
· O sofrimento provoca desejos que nos levam a agir (fazemos "tudo" para
conseguir).
· As ações criam a Karma (e é mais fácil fazermos o errado que o certo).
· O efeito se manifesta de novo como sofrimento.
· O sofrimento acaba alimentando novos desejos.
Este ciclo continua ao infinito criando um Karma cada vez mais negativo.
O Ponto crítico deste ciclo são os "desejos". A palavra desejo, deriva do sânscrito "Klesha" que traduzido significa "Ilusões", mas indica também, todas as funções mentais que perturbam uma pessoa, a nível físico ou espiritual.
O filósofo hindú Dharmapala (século VI) dividia as ilusões em duas categorias:
Fundamentais:
· Avareza, ira, estupidez, arrogância, dúvida e visão distorcida.
Derivadas:
· Ilusão que nasce em considerar o "Eu" como absoluto.
· Ilusão que nasce em considerar a morte como o fim de nossa vida.
· Ilusão que nasce do não reconhecimento da Lei de Causa e Efeito.
· Ilusão que nasce da ligação a idéias erradas, que fazem considerar como
superiores, coisas que na verdade são inferiores.
· Ilusão que nasce em considerar práticas e preceitos errados como meios
para atingir a iluminação.
No ocidente o budismo é considerado uma religião que prega a extinção dos desejos, porém somente no budismo Hinayana.
No Sutra de Lótus (budismo Mahayana), verificamos que o conceito é exatamente o oposto. Isto nos leva muito perto do conceito de transformação do Karma.
Entrando no Coração da Lei para podermos entender o ponto chave da questão, devemos esvaziar nossa mente por alguns minutos e focalizar os princípios budistas que inspiram a Lei de Causa e Efeito.
· A vida passa continuamente de uma condição vital a outra - princípio da
Possessão mútua dos dez mundos.
· Nestas mudanças existe um mecanismo que define o funcionamento da vida -
princípio dos Dez Fatores.
Deste princípio, agora nos interessa somente a parte que inicia com o "Poder" (Nyoze-Riki) e acaba em "consistente do início ao fim" (Nyoze-Honmatsu-Kukyoto).
Façamos a seguinte análise:
O poder é a capacidade de agir em cada um dos Dez Mundos.
Quando o poder latente se manifesta, obtemos uma ação (a ação é o uso do pensamento) que pode ser positiva ou negativa.
A causa interna (que é a mente, ou pode ser chamada também de Karma) dá origem ao efeito latente.
O pensamento anterior é a causa interna e o sucessivo o efeito latente. Ex. Se um pensamento é bom ou ruim, depende da bondade ou da maldade daquele anterior. Ou seja, a causa interna é a tendência acumulada na vida, já presente neste mesmo momento. Na verdade não existe um intervalo de tempo entre uma coisa e outra. No mesmo instante que nasce a causa interna, nasce também o efeito latente (eles são sempre os dois lados de uma mesma moeda).
A causa externa (que é a capacidade da vida de se relacionar com o exterior) tem uma dupla natureza. Ela age sobre nós vinda do exterior, e por outro lado se torna parte da nossa futura reação à outras novas experiências.
O Efeito manifesto (que é uma reação visível à causa interna e ao efeito latente) é o resultado final e visível de um processo. Na verdade estes efeitos visíveis são simultâneos a causa. Ex. Quando uma criança cresce, percebemos as suas mudanças só depois de algum tempo; mas na realidade essas mudanças acontecem a cada segundo.
A Consistência do início ao fim (que é a totalidade de todos os fatores) é o fim de um processo que se inicia com o aspecto, ou seja, é o fator que engloba todos os outros e exprime a totalidade homogênea e particular (ou pessoal) de todos os seres.
A Lei Universal que Tudo Permeia
O Título do Sutra de Lótus é Myoho-Rengue-Kyo. Rengue significa flor de lótus. Nitiren Daishonin escolheu o lótus não como símbolo puramente, mas sim para explicar o profundo conceito da Lei de Causa e Efeito.
Isto porque o lótus é a única planta que produz flor e frutos simultaneamente (na verdade esta é uma milionésima parte do profundo significado do lótus para os budistas).
Na realidade, dentre muitas outras representações, o lótus indica a essência da meditação sobre a lei do sutra do mesmo nome; a atenção a esta consideração é muito importante para uma prática correta.
Nitikan Shonin escreveu: A Vida e o seu ambiente, assim como a Lei de Causa e Efeito, vêm a formar a branca flor do lótus das oito pétalas, o objeto oculto, escondido na profundidade do ensino fundamental deste sutra.
A Transformação do Karma
A medida que uma pessoa se empenha na estrada da Iluminação, verá aparecer o seu Karma.
Nitiren Daishonin introduziu o conceito de Transformação do Karma dizendo:
· É graças aos benefícios obtidos protegendo a verdadeira (ou fundamental) lei, que se pode diminuir nesta vida, o próprio sofrimento. Porém para obtermos tais benefícios, a condição principal é a Fé.
No Budismo de Nitiren Daishonin, não ter fé é como entrar numa montanha repleta de tesouros e não poder pegá-los.
A fé budista no caso de se "Amenizar o Karma" foi muito bem definida por Miao-Lo que disse : "Se não percebes a natureza da própria vida, não poderás erradicar o Karma negativo". Ou seja, se você não perceber a natureza da tua vida, a tua prática será uma infinita e dolorosa austeridade.
Sakyamuni nos ajuda a entender este conceito dizendo : "Se você deseja fazer Sange (Sange é a tradução de arrependimento, mas é na verdade uma tomada de consciência muito profunda da nossa própria vida e da nossa situação atual. É uma profunda auto-análise, porque a consciência que nós temos a cada segundo de nossa vida, pode abraçar a nossa existência, uma vez que no presente estão contidos também o passado e o futuro), sente ereto e medite sobre a verdadeira entidade da vida.
A verdadeira transformação do nosso destino, acontece a cada momento, seja aliviando o Karma, seja colocando novas causas positivas. E o motor que permite o funcionamento deste mecanismo é a Fé.
Nitiren Daishonin esclarece: "Mesmo uma pequena ofensa, pode destinar uma
pessoa aos maus caminhos, se ela não se arrepende. Mas também uma grande
ofensa, pode ser cancelada, se existe um arrependimento sincero".
Este tipo de afirmação poderia levar-nos a pensar que a ética budista (ou a ação moral), seja determinada pelo medo da punição ou pela espera de um prêmio (benefícios ou sofrimentos). Mas estes são na verdade, conseqüência de uma mudança "Invisível", que acontece antes de tudo, por decisão pessoal na vida de cada um de nós.
Isto quer dizer: Eu faço o bem porque sinto que é justo, nobre e bom, e não porque tenho medo de uma punição. Sendo assim, para entender a teoria do Karma, é necessário evitar separações. A vida individual deve ser pensada como vida universal em uma relação de contínua e recíproca influência, ou seja, em um processo causal que deve ser utilizado e não sofrido.
Nada adianta tapar o sol com a peneira. Precisamos falar com sinceridade à nossa consciência, e abrirmos com alegria e fé os nossos corações.
O nosso destino está mais do que nunca em nossas mãos.
(Autor desconhecido)
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