Por que gerentes motivados falham em dar continuidade ao trabalho? Porque agir
de forma sustentada no ambiente de trabalho exige mais do que motivação; exige
força de vontade para superar o obstáculo depois do qual não há volta.
Por Sumantra
Ghoshal e Heike Bruch
Sinopse:
"Determinação", "forca de vontade" "volição" (que foi a erudita escolha
dos autores no texto original). Todas as três palavras podem ser
utilizadas para o que é descrito aqui; só se proíbe recorrer à velha e
gasta "motivação". Por quê? "motivação" é simplesmente o desejo de fazer
algo, enquanto "determinação" e seus sinônimos significam o
comprometimento absoluto com um objetivo. Para despertar a determinação,
em si e nos outros, é preciso ultrapassar uma barreira mental, um ponto
sem retorno possível.
Cruzando os resultados de duas pesquisas distintas, Sumantra Ghoshal, um
dos principais gurus da liderança da atualidade, e a especialista Heike
Bruch descobriram que, apesar de não haver uma fórmula garantida para
criar força de vontade, existe um processo de três etapas que ajuda cada
um a atravessar sua própria barreira mental e quatro estratégias para
contaminar os outros com sua determinação. Os executivos seniores são
responsáveis pela ausência de determinação das empresas, segundo os
autores. Eles não enfatizam suficientemente a persistência dos
funcionários e pedem seu comprometimento com toda a empresa - e não com
projetos. Não dá certo.
A mais poderosa
arma do comportamento humano é a força de vontade. Empresas cujos
executivos aprendem a despertar a força de vontade - ou a determinação -
em si próprios e nos outros colhem os benefícios de ações mais resolutas e
vêem mais projetos sendo levados a cabo.
No entanto,
espalhar a determinação não é tarefa fácil. Trata-se de um estágio
superior à mera motivação. Motivação é o desejo de fazer algo;
determinação é o absoluto comprometimento com um objetivo. Para despertar
esta, as pessoas têm de ultrapassar uma barreira mental, um Rubicão
pessoal (como o rio que Júlio César cruzou em direção à conquista,
primeiro, da Gália, depois, do governo de Roma e que representava um ponto
sem retorno possível).
Nossas
pesquisas revelam como líderes de sucesso conseguem fazer isso e como
utilizam quatro estratégias simples para ajudar gerentes de níveis
inferiores da hierarquia a fazer o mesmo.
Novas pesquisas sobre atitudes de liderança corroboram a diferença entre
motivação e determinação. Gerentes de projetos das empresas estudadas
raramente seguiram adiante quando o caminho ficou difícil. Apenas 10%
tomaram medidas com o propósito específico de atingir seus objetivos. O
restante, apesar de saber que deveria fazê-Io, não o fez.
A razão da
desistência? Está na distinção entre motivação e determinação. A maioria
dos líderes estava motivada. Somente 10%, porém, estavam determinados.
Estes ultrapassaram de fato as barreiras pessoais que precedem o real
comprometimento.
Não há fórmula
para isso. O que tais executivos têm em comum? Uma intensa luta interna em
relação ao que realmente querem. Tendo empenhado sua determinação,
encontraram força para lidar com reveses e perseverar na longa jornada,
reunindo a energia necessária para passar da visão à realização.
Muitos dirigentes nunca praticaram a determinação em seu local de
trabalho; outros até enfrentaram situações que despertaram sua força de
vontade, mas foi por acaso; não saberiam como ativá-la deliberadamente.
Todos os executivos, no entanto, podem aprender como funciona o processo
de agir com determinação, como arregimentar sua própria força de vontade e
como abrir caminho para que gerentes de nível hierárquico inferior ajam de
forma resoluta.
Motivação versus determinação
A motivação é geralmente despertada por estímulos externos ou expectativas
de recompensa, mas isso está sujeito a variações. Podem aparecer
oportunidades mais atraentes - ou obstáculos que façam a recompensa
parecer pequena. A motivação intrínseca (um desejo motivado por uma
necessidade interna) oferece interesse e satisfação, o que também pode
variar.
A determinação, por outro lado, implica uma profunda ligação pessoal com
um objetivo. Dirigentes com perfil determinado têm grande necessidade de
produzir resultados e não são impulsionados pela recompensa nem pela
satisfação. A força de vontade permite que executem ações disciplinadas
até quando falta o desejo, quando não há expectativa de satisfação no
trabalho ou quando surgem outras oportunidades tentadoras. É o caso, por
exemplo, de Dan Andersson, que introduziu a Conoco no setor de postos de
gasolina em um país europeu.
Mesmo depois da
desregulamentação, um poderoso monopólio estatal continuava a lançar mão
de inúmeros expedientes -com a conivência de funcionários do governo -
para manter sua participação de mercado. "A abertura do primeiro posto foi
uma luta", lembra-se Andersson. "De início, fiquei muito abatido, mas
continuei. Havia um filme que me vinha sempre à mente - algo a ver com
enquadrar AI Capone em Chicago, em 1927 ou 1929; era como se estivéssemos
fazendo a mesma coisa... Lutávamos contra concorrentes inescrupulosos que,
ajudados pela conivência de políticos e burocratas, tentavam usar truques
sujos contra nós. Na verdade, acabei tirando muita energia desse
sentimento de injustiça." Andersson encontrou sua fonte de determinação. E
a Conoco triunfou.
Como"alavancar"
a determinação pessoal
Quando nos aproximamos do ponto pessoal a partir do qual não há retorno
possível, nos vemos diante de uma paisagem diferente da que está adiante.
Nas proximidades está a motivação, o estado de desejar, escolher,
considerar, pesar as opções. Sempre há como retornar. Mais além, intelecto
e emoção se fundem para criar o comprometimento. As pontes são queimadas;
as ações, implacáveis.
Três fases
definem a criação e alavancagem da determinação:
1. Forme a intenção
Descobrir uma oportunidade que fará diferença é o gatilho que dispara a
primeira fase. Uma dimensão emocional dá significado à intenção; uma
avaliação puramente racional de custos e benefícios decorrentes da
perseguição de um objetivo nunca levará à determinação.
Vejamos a
história de Wim Ouboter, fundador e presidente executivo da empresa suíça
Micro Mobility Systems. Um dia em 1990, Ouboter queria uma salsicha. A
mercearia ficava perto demais para ir de carro, mas longe demais para ir a
pé -o que ele chamou de "micro-distância". Sentiu aí a oportunidade de
desenvolver uma pequena scooter (moto) -ele sempre havia gostado de
scooters, também por questões familiares e emocionais.
Ouboter
construiu, então, o protótipo de uma microscooter, leve e de desenho
arrojado, com a intenção de abrir uma empresa. Logo, porém, desencorajado
pela reação das pessoas a sua volta, deixou o protótipo na garagem e se
esqueceu do projeto. A motivação não havia se transformado em
determinação.
2. Atravesse o
Rubicão
Durante o primeiro estágio, a atenção não está focada, as percepções não
estão dirigidas e os julgamentos não mostram nenhum viés. Gradualmente os
dirigentes adquirem o foco que precede o salto para o comprometimento.
Há, em geral, um elemento catalisador. Quando Ouboter viu as crianças do
bairro encantadas com a microscooter abandonada, seu entusiasmo com a
empresa reacendeu. Sua mulher o encorajou a entregar-se ao projeto, se
realmente acreditasse nele; caso não fizesse nada, talvez tivesse de
enfrentar os arrependimentos que viriam de sua não-ação.
Essa conversa
foi catalisadora. Ouboter desistiu de tudo mais e determinou-se a fazer o
que fosse necessário para que sua scooter se tornasse um sucesso. Quatro
anos depois, ele estava embarcando 80 mil scooters por dia, quantidade bem
superior à previsão inicial de demanda total de 40 mil unidades.
A experiência de Ouboter ilustra um componente essencial para a travessia:
a escolha. Quando não há escolha -real ou percebida-, não pode existir
livre-arbítrio, não há determinação. Essencial também é a aceitação de
responsabilidade pessoal. A decisão de comprometer-se vem com a resolução
de aceitar a responsabilidade total.
Dirigentes
determinados se lançam em um processo interno de construção do consenso
para resolver a ansiedade, os sentimentos conflitantes e as dúvidas.
Depois que uma idéia cria raiz, a etapa seguinte é identificar e
confrontar aspectos que despertam cautela. Poucos levam em conta os
sentimentos conflitantes que podem advir de um trabalho, erro que acaba
custando caro e que bloqueia o comprometimento real. Dirigentes
determinados enfrentam suas preocupações, evitando, assim, hesitações
futuras. A força de vontade, manifestada na forma de uma determinação
ferrenha e na crença aparentemente infundada no sucesso, é o que faz com
que as pessoas realizem feitos que outros achariam impossíveis.
Comprometimentos profundos, contudo, não são assumidos de afogadilho.
Alguns executivos se afastam do burburinho do dia-a-dia para refletir,
criando processos de escolha próprios.
3. Proteja a
intenção
Muitas vezes, acontecimentos ou preocupações podem desviar a empresa das
ações a que se propuseram. Por isso, dirigentes determinados protegem
conscientemente suas intenções, como fez Ulisses, que pediu que o
amarrassem ao mastro de seu barco para resistir às sereias, cujo canto
fazia os marinheiros se aproximar da ilha rochosa onde elas habitavam e
deixar o barco despedaçar ali.
Há muitos
cantos de sereia nas empresas. Dirigentes determinados modificam seu
ambiente para se tornar surdos às sereias corporativas. Por exemplo, criar
deliberadamente pressões sociais (compromisso público, desafiando prazos
ou tendo um controle de acionistas relevante em suas atividades) pode
aumentar o custo de abandonar a meta.
Dirigentes
determinados também disciplinam seu processo de pensamento. Quando surgem
dúvidas, eles reajustam o foco. Alguns o fazem perguntando a si mesmos: "O
que aconteceria se eu desistisse?". Outros gastam algum tempo ponderando
seu propósito original e reafirmando seu valor. E há aqueles que se
lembram da promessa que fizeram a si próprios quando se comprometeram.
Além de
autodisciplina, dirigentes determinados mostram energia positiva. Mantêm o
entusiasmo com o trabalho, defendendo-se deliberadamente de emoções
negativas, convertendo adversidades em inspiração.
Ouboter teve de
suportar a adversidade. Ao mostrar o protótipo, o fabricante de automóveis
Smart pensou, inicialmente, em incluir uma scooter em cada carro. Com uma
previsão total de vendas de 40 mil unidades, Ouboter procurou um produtor
confiável. A Smart, porém, voltou atrás com uma mensagem seca: "Obrigado
por sua oferta. Desejamos sorte com sua scooter'. Foi um verdadeiro soco
no estômago”.Foi aí que resolvi ir adiante, de qualquer maneira",
lembra-se Ouboter.
Como já tinha
um fabricante, ele se dedicou a desenvolver novos canais de distribuição,
programas de marketing e estratégias para entrar no mercado. A scooter
pegou no Japão, depois na Europa e finalmente em todo o mundo. Em dezembro
de 2000, Ouboter vendia 80 mil scooters por dia e sua receita havia
aumentado 1.400% ao ano. "O cancelamento da Smart foi o melhor que podia
ter acontecido", diz ele. "A dor que senti deu lugar à inexplicável
convicção de que a scooter venderia, e foi daí que tirei a energia."
Portanto,
dirigentes determinados também preservam suas intenções protegendo sua
autoconfiança. A autoconfiança permite que passem por cima de Jeedbacks
negativos e de obstáculos. Uma forma eficaz de manter a coragem é
relembrar experiências anteriores, em que problemas foram superados e o
sucesso alcançado.
Projetos emocionantes à primeira vista podem tornar-se enfadonhos e
difíceis, portanto os dirigentes planejam eventos para recarregar as
energias. Alguns recompensam a si próprios ao passar por determinados
pontos significativos. Outros acreditam que em fases adiantadas de projeto
o aumento de interações - como ocorre nas reuniões de revisão- mantém a
energia circulando e protege as intenções.
Como espalhar o
sentimento de determinação
A determinação
pode ser despertada ou tem de ser uma escolha individual? Como os líderes
podem estimular o comprometimento com ações positivas nas empresas?
A maior parte
dos executivos reconhece que o impulso dos funcionários impele a ação
empresarial e, portanto, o desempenho do negócio. "O que fazer para
motivar meus subordinados?", perguntam, pensando que todas as pessoas são
movidas por interesses próprios. Peter Koestenbaum, filósofo e psicólogo,
adverte contra a redução do indivíduo a um conjunto de instintos e
necessidades primitivas. Ele acha que os líderes são imprudentes ao focar
estratégias para alinhar as necessidades básicas dos funcionários -por
dinheiro, por exemplo aos objetivos da empresa.
Quando os
objetivos são simples, as ações necessárias relativamente rotineiras e as
dificuldades inesperadas raras, a motivação pode levar à ação. Os cargos
de gestão empresarial, contudo, raramente são rotineiros. Os dirigentes
têm uma série de objetivos, muitas vezes conflitantes, que costumam exigir
ação persistente e de longo prazo. O contexto do trabalho é fragmentado,
com altos níveis de incerteza e oposição.
O envolvimento
da força de vontade é um processo pessoal, quase íntimo, que não pode ser
disparando por meras recompensas. Nossa pesquisa mostra quatro estratégias
usadas por executivos para fazer com que os gerentes superem barreiras
pessoais e ajam com uma finalidade específica.
1. Ajude as pessoas a visualizar sua intenção
Objetivos vagos levam à falta de comprometimento. Os executivos podem
ajudar, estimulando as pessoas a transformar suas idéias em intenções
concretas.
As pessoas
precisam de um quadro vívido de seu objetivo para ativar suas emoções e
proteger sua intenção durante a fase de tomada de ações. 'Imagens vívidas
ajudam a simplificar os objetivos de longo prazo e a torná-los tangíveis.
Posteriormente, se surgirem dúvidas, essas imagens são usadas para
estimular a perseverar. Executivos seniores ajudam gerentes a criar tais
imagens.
Jim Taylor, da
Conoco, por exemplo, precisou de ajuda para decidir em qual de vários
produtos potenciais de fibra de carbono se concentrar. O material tinha
diversas propriedades -duro como aço, leve como plástico, inquebrável, não
corrosivo. Taylor tinha certeza de que seu departamento podia produzir
grandes quantidades desse material a um custo mais baixo do que a
concorrência (graças à nova tecnologia de produção desenvolvida com a
DuPont). No entanto, por onde começar?
O ponto
decisivo veio em uma revisão estratégica do negócio com funcionários de
nível mais alto. Como tudo era possível Taylor queria que esses executivos
dissessem por onde começar e os desafiou a visualizar o potencial e a
descrever um exemplo concreto de como poderia ser essa "grande qualquer
coisa".
"Lentamente
percebi que meu desejo era uma ponte", diz Taylor. "Uma ponte feita de
fibras de carbono -leve como plástico e dura como aço-, que não quebraria
nem enferrujaria. Esse se tornou meu mote pessoal."
O insight
serviu como liberação. Em meados de 2002, Taylor contava com instalações
para produção, um processo protegido por 38 patentes e uma equipe de 200
pessoas. Embora depois da fusão com a Philips o departamento tenha sido
fechado por causa de incertezas de mercado, a empresa continua a ser
reconhecida como líder mundial em certas tecnologias de fabricação com
fibras de carbono.
2. Encoraje as
pessoas a enfrentar sua ambivalência
Para conseguir
o envolvimento da força de vontade, é preciso contar com a dimensão
intelectual que, aliada à emocional, cria uma intenção mais rica do que um
objetivo meramente racional-o que não significa ser irracional. A
diferença está no que líderes e gerentes se perguntam. Em vez de perguntas
como "O que eu ganho com isso? É razoável?", os executivos que buscam um
comprometimento real incentivam as pessoas a perguntar: "Quais os aspectos
negativos? Parece certo? Será que realmente quero isso?". Dessa maneira,
os dirigentes conseguem o engajamento de emoções, o que leva a
comprometimentos mais profundos.
Forçar as
pessoas a se confrontar com a ambivalência é uma forma mais difícil de
conquistar seu apoio do que oferecendo recompensa e resultados. Em última
instância, porém, essa postura traz menos riscos do que uma aquiescência
morna, pela metade. Ajuda as pessoas a ver se realmente desejam dedicar
coração e mente.
Vejamos como Thomas Schumacher ajudou Matthias Môlleney. Môlleney era
vice-presidente executivo de recursos humanos do Grupo SAir. Quando a
Swissair entrou em concordata, ele recebeu uma oferta de trabalho em outra
empresa. Em seguida, foi designado para cuidar da liquidação da SAir, o
que implicava despedir funcionários, negociar pagamentos por rescisão de
contratos, lutar contra um processo instaurado pelos pilotos e, por
último, pedir demissão.
Môlleney sentiu-se péssimo em deixar os funcionários naquele momento, mas
uma abordagem não emocional o impelia a rejeitar a designação. Consultou,
então, Schumacher, seu antigo mentor. "Estou ouvindo o que você está
dizendo", disse ele, "mas escuto também seu coração. Preste atenção a seus
sentimentos mais íntimos antes de decidir; caso contrário, você se sentirá
desconfortável, sem a certeza de ter tomado a decisão correta. "
Môlleney continuou na SAir. "Depois que decidi ficar e proceder à
liquidação quis fazer o melhor possível -para as pessoas." Ele utilizou
toda sua criatividade, todos seus esforços e toda sua energia para
garantir a colocação em outras empresas dos funcionários que eram
despedidos e manter a motivação dos que permaneciam. "O processo me levou
a limites pessoais", reconhece Môlleney, "mas nunca me arrependi de
concordar em realizar a tarefa. Valeu a pena - embora a única recompensa
fosse sentir que estava fazendo a coisa certa."
3. Prepare as
pessoas para enfrentar obstáculos
Quando querem
arregimentar pessoas para executar tarefas, os executivos costumam pintar
um quadro cor-de-rosa, minimizando obstáculos e dando destaque aos
benefícios. Aqueles que fomentam o comprometimento fazem o contrário. Em
geral, quando os gerentes de linha de frente realizam tarefas com esforço
disciplinado, há um líder sênior por trás, que estabeleceu medidas para
evitar a superficialidade.
O chefe de uma
subsidiária da IBM, a quem chamaremos de Sven Olafson, é um desses
líderes. No início da década de 1990, Olafson observou que dos muitos
projetos iniciados de forma entusiástica apenas 15% eram concluídos de
maneira satisfatória. A IBM tinha um conselho sólido que priorizava
atividades, autorizava novos projetos e alocava recursos. Olafson percebeu
que as propostas trazidas ao conselho eram extremamente otimistas e se
concentravam apenas nos aspectos comerciais.
Ele apresentou,
então, um novo processo de priorização dos projetos. As propostas deviam
incluir informações sobre ganhos para o negócio, riscos, vantagens e
desvantagens pessoais. Os gerentes que apresentassem propostas tinham de
responder às perguntas: "Quanto esse projeto custaria a mim,
pessoalmente?", "O que eu devo deixar de fazer?", "O que mais eu faria se
não aceitasse esse projeto?". Os candidatos precisavam defender suas
razões para iniciar o projeto perante o conselho, apesar do custo pessoal.
Depois da aprovação, o chefe do conselho perguntava mais uma vez aos
defensores do projeto se eles queriam mesmo ir adiante. O resultado desse
sistema foi uma drástica diminuição no número de projetos, porém com um
índice de projetos concluídos com sucesso de 95%.
4. Ajude as
pessoas a enxergar e a explorar alternativas
A matéria-prima
para a formação da intenção são oportunidades atraentes. Muitos gerentes,
contudo, são prisioneiros da rotina. Reagem às exigências diárias em vez
de ponderar o que deveriam ou querem fazer. Alguns não têm a abertura
necessária para identificar oportunidades; sentem-se presos a uma
camisa-de-força de expectativas. Outros percebem oportunidades, mas as
excluem porque não podem imaginar uma mudança de hábitos.
Líderes
seniores, ao sistematizar o trabalho, costumam reforçar atividades
habituais e impedir que as pessoas dêem o primeiro passo em direção ao
comprometimento: a percepção de oportunidades.
É
imprescindível dar às pessoas a oportunidade de escolher. Os executivos
precisam, também, ajudar os gerentes a desenvolver a confiança necessária
para tentar novas idéias.
Em 1984,
Michael Hilti lançou uma iniciativa para aprimorar a capacidade de seus
gerentes de se comprometer profundamente com novos projetos. "Quero que
nossos gerentes assumam responsabilidade pelo que fazem", explica. "A
primeira condição necessária para que isso aconteça é que gostem do que
fazem; a segunda, que estejam cientes de que têm escolha; a terceira, que
se comprometam sem reservas."
Os gerentes
passam por um treinamento de três dias sobre os cinco aspectos da
filosofia de Hilti: o significado das regras, a quebra de antigos hábitos,
a liberdade de escolha (amar, mudar ou deixar de lado), o pêndulo da vida
(aceitar tanto contratempos como experiências positivas) e comprometer-se
pessoalmente. Essa iniciativa, implementada a um custo de US$ 16 milhões e
usada por cerca de 20 anos, revolucionou a cultura da empresa e contribuiu
para um surto de novos produtos que fazem da Hilti hoje uma líder mundial
em ferramentas de alta qualidade e equipamentos de construção.
A Hilti
monitora a cultura da organização por meio de levantamentos de opinião. Os
resultados dessas pesquisas são usados para aumentar a determinação e a
responsabilidade de cada um. A empresa constatou dois efeitos importantes
sobre a conduta cotidiana: em primeiro lugar, não se anda para trás, com
justificativas, atribuição de culpa ou negação. Em segundo, os gerentes
aprenderam a aceitar desafios.
Estabelecendo
limites
O problema da
força de vontade é que ela cega as pessoas. Assim, muitos dirigentes
determinados persistem mesmo quando está claro que o projeto não é mais
desejável. Outros se apaixonam tanto pelos projetos que não conseguem
libertar-se deles mesmo depois do sucesso. Definir limites pode ajudar a
deter a patologia da força de vontade.
Alguns
executivos põem a responsabilidade pela desativação dos projetos nas mãos
de seus iniciadores. Isso não funciona. Os limites devem ser definidos no
compromisso inicial e não introduzidos depois. Lars Kolind, presidente da
dinamarquesa Oticon, desenvolveu uma forma de limite que funciona bem na
fabricante de aparelhos auditivos. Gerida quase exclusivamente por
projetos, a Oticon permite aos funcionários dar início a um projeto com o
qual se sintam comprometidos, contanto que convençam certo número de
colegas a participar voluntariamente e pelo menos um executivo de alto
escalão a patrociná-lo. Os limites entram em cena quando o iniciador da
idéia desiste, quando os membros saem da equipe ou quando o patrocinador
retira seu apoio.
A base para uma
execução persistente
Estratégias
arrojadas, mudança revolucionária e flexibilidade são idéias empolgantes
que facilmente conquistam a imaginação dos líderes. Podem servir de
catapulta para o sucesso da empresa. O progresso empresarial duradouro,
contudo, é construído sobre tarefas executadas de forma disciplinada e
constante.
Ou seja, ações
persistentes dependem de força de vontade. Os gerentes têm de se engajar
de forma a conseguir atingir seus objetivos, a despeito de todos os
obstáculos (veja o quadro ao lado).
Infelizmente, a
persistência não é tão enfatizada pela alta direção quanto deveria. Nossas
pesquisas apontaram um problema ainda maior: grande parte dos executivos
tenta conseguir do funcionário um comprometimento com toda a empresa, não
com projetos específicos. Isso não funciona.
O
comprometimento organizacional, em sua melhor forma, é construído de baixo
para cima, a partir de um sentimento de propriedade com relação aos
projetos e de empenho pessoal por iniciativas específicas. Em um mundo
onde os funcionários vêm e vão, os empresários devem cultivar o espírito
empreendedor, se quiserem ver prevalecer a orientação para a ação.
Como “ativar” a
determinação em si mesmo
Estágio 1:
formação da intenção
• Identifique
oportunidades.
• Crie um elo
emocional.
• Visualize a
intenção.
Estágio 2:
travessia do Rubicão
• Lide com dúvidas e ansiedades.
• Exercite a
escolha consciente.
• Assuma a
responsabilidade individualmente.
Estágio 3:
proteção da intenção
• Controle o contexto.
• Regule o
conhecimento.
• Gerencie
emoções.
• Proteja a
autoconfiança.
A base deste
estudo foram duas pesquisas
As conclusões
deste estudo derivaram de duas pesquisas:
1) pesquisa
quantitativa e qualitativa realizada com 130 gerentes médios da Lufthansa,
na Europa, e com 250 gerentes médios da Conoco, nos Estados Unidos, com o
objetivo de mapear ações gerenciais resolutas e seus impulsionadores;
2) levantamento de dez anos de casos de 17 empresas de porte grande e
pequena da América do Norte (Goldman Sachs e Oracle), da Europa (ABB, BP,
BrainsToVentures, BT, BP, Hilti, LVMH, Micro Mobility Systems, Namics
Philips, Reflact Concept), da Ásia (lnfosys, LG Group e Sony) e da América
Latina (as brasileiras Natura e WEG). O foco nesse levantamento foi a
tomada de iniciativas de processos de mudança - incrementais e
transformacionais.
Sumantra
Ghoshal é um dos principais gurus da London Business School, de Londres,
Reino Unido, onde ensina liderança estratégica.
Heike Bruch é
professora de liderança da University of St. Gallen, sediada na Suíça.