Encare a adversidade com um SORRISO

 

O quociente de adversidade diz tudo sobre a sua capacidade de enfrentar os imprevistos. Paul Stolz detectou uma relação entre o fracasso profissional e um baixo QA. Use o bom humor e descubra oportunidades mesmo na adversidade

Por Dalen Jacomino

O americano Paul Stolz, presidente da consultora Peak Learning, passou 20 anos a pesquisar um assunto delicado: o fracasso profissional. Avaliou principalmente os motivos que levam profissionais brilhantes, inteligentes e sensíveis ao fundo do poço. Stolz descobriu que, na maioria dos casos, a dificuldade em lidar com adversidades é a grande vilã. Segundo ele, o sucesso está directamente ligado à capacidade de enfrentar, processar e solucionar dificuldades que surgem inesperadamente na carreira. "Você pode ser brilhante no que faz e gerir muito bem as suas emoções, mas, se o seu mundo se desmorona quando se depara com uma situação adversa, estará a comprometer, certamente, o seu desenvolvimento profissional", afirma.


As pesquisas de Stolz culminaram na criação de um novo conceito: o de quociente de adversidade (QA). O QA indica a sua capacidade para enfrentar dificuldades e imprevistos. Em 1997, Stolz lançou o livro Adversity Quocient - Turning Obstacles into Opportunities, onde explica a teoria, ensina como calcular o QA e apresenta técnicas para enfrentar melhor os imprevistos.
Na entrevista que se segue, Paul Stolz põe em prática a sua teoria. No meio da conversa, foram- -lhe feitas perguntas inusitadas, sem qualquer relação com o tema. E como se saiu Paul Stolz? Muito bem. Respondeu a todas as questões estranhas, tentando dar uma explicação lógica, mesmo sem saber o porquê das questões. No final da conversa, ao ser informado sobre o motivo das perguntas, Stolz fartou-se de rir. O bom humor é, aliás, um ingrediente fundamental para quem deseja ter um QA alto.


Por que é tão difícil lidar com a adversidade?
Paul Stolz - Hoje, mais do que nunca, os profissionais enfrentam testes constantemente. E a verdade é que não estão preparados para gerir adequadamente as situações. Perdem o controle e interpretam a adversidade como algo negativo e não como uma porta aberta para a criação de novas oportunidades.

 

E como é possível transformar obstáculos em oportunidades?
P. S. - A atitude mais poderosa que uma pessoa pode ter é tomar consciência do seu próprio QA. Nós oferecemos essa possibilidade no nosso site (www.peaklearning.com). Depois de responder a uma série de questões, chegará ao seu QA. Só então é possível mudar o seu comportamento. A segunda etapa desta batalha terá início quando você se deparar com a adversidade. Identifique a sua origem; questione qual a parte que poderá ser da sua responsabilidade e qual a que está fora do seu controle. Afinal, você não deve assumir 100% da culpa.
O próximo passo é analisar qual será a interferência em outras áreas da sua vida. Avalie também por quanto tempo ela vai afetar a sua rotina. Por último, entre em ação. Procure informações adicionais para resolver a situação. Imagine o que acontecerá quando a adversidade tiver sido contornada. E o mais importante: responda de forma construtiva à situação. Procure as vantagens, que, embora nem sempre óbvias, existem.

 

Como é possível aumentar o QA no interior das empresas?
P. S. - Acredito que os profissionais estão divididos em três grupos: os derrotistas, os acomodados e os alpinistas. Pense numa montanha. Os derrotistas recusam-se a enfrentá-la. Os acomodados são os profissionais que até conseguem alcançar uma determinada altura ao escalá-la, mas acreditam que ali é o seu limite, preferindo manter-se na zona do conforto. E, por último, existem os alpinistas. São os que estão sempre à procura de novos desafios, reavaliando os seus valores e objetivos, e que nunca param de crescer. Eles têm, em geral, um alto QA.
O primeiro passo a dar, nesse caso, é fazer com que os profissionais estejam conscientes do seu QA, do seu perfil. Examine então os profissionais com alto quociente, os alpinistas. Valorize-os, crie oportunidades, ofereça espaço e equipamentos para que possam inovar, desenvolver-se e trazer resultados. Para os que têm um quociente menor, crie programas de conscientização, discuta, forneça feedback. A empresa deve dar sempre uma hipótese para que os acomodados se possam tornar alpinistas.

 

Que empresas têm um alto QA?
P. S. - Há vários exemplos. A Microsoft é um bom exemplo da cultura alpinista. Tradicionalmente, ela tem atraído pessoas que querem correr riscos, encontrar novos caminhos, alcançar o sucesso. Uma outra empresa que possui essa cultura é a Odwalla, uma produtora norte-americana de sumos. A Odwalla enfrentou um grande problema quando descobriu que havia um pesticida venenoso nas maçãs utilizadas nos seus sumos. Era uma situação realmente séria. E foi, por outro lado, uma oportunidade para ela dar a volta por cima, limpar o seu produto torná-lo puro e seguro para o consumo. Hoje, está mais forte do que nunca.

 

Quais as diferenças entre o quociente de inteligência, o quociente emocional e o quociente de adversidade?
P. S. - O QI é um indicador imutável. Você nasce e morre com aquele QI. Não há como desenvolvê-lo, além de não ser o melhor indicador para se prever o sucesso. Basta olhar para os chefes inteligentes que não sabem gerir pessoas. Eles terão sempre dificuldades em assumir posições de liderança. Inteligência emocional é um conceito poderoso e muito importante para aprendermos, mas também é muito difícil de se medir. Daniel Goleman, pelo menos, não ensina isso na sua obra. Já o quociente de adversidade pode ser medido e permanentemente desenvolvido. Aí reside a diferença.

 

Por que motivo, fracassam os profissionais que teriam tudo para dar certo - um alto QI e uma inteligência emocional desenvolvida?
P. S. - Você pode ser maravilhoso para lidar com as suas emoções, pode ser brilhante. Mas, se tudo se desmorona quando enfrenta a adversidade, você não vai muito longe. Agora, se a pessoa tem um alto QA, superará imprevistos e terá muitas oportunidades para crescer, mesmo sem ser um gênio.

 

No seu livro fala sobre Peter Senge e a teoria da learning organization. Qual a relação entre os dois?
P. S. - Criar e desenvolver o conceito de learning organization não é fácil. Leva tempo e exige uma dedicação permanente por parte das empresas. Aquelas que têm um alto QA conseguirão desenvolvê-lo com maior eficácia, porque estão dispostas a aprender e a superar-se.

São seis horas da manhã e o seu vizinho resolve consertar um armário. Sem conseguir dormir, você vai para a ducha e descobre que a água está gelada. Mete-se no carro e depara-se com um acidente de trânsito. Resultado: 40 minutos de atraso para uma reunião importantíssima. É possível encarar positivamente este pacote de adversidades?
P. S. - É. A pessoa que tem um alto QA não processa uma adversidade como algo necessariamente negativo. Uma pessoa com um baixo QA, ao encontrar a água gelada no chuveiro, pensa: "Que horror!" Já pessoas com um alto QA tendem a levar as coisas com mais leveza e sentido de humor e são capazes de dizer: "Que engraçado, como a água está fresquinha hoje!" São capazes de enfrentar vários tipos de adversidade durante o dia e superar todos.

Se o seu chefe lhe pede um trabalho que você não está apto a fazer, qual a melhor forma de reagir?
P. S. - Se você optar por uma postura negativa, vai perder a oportunidade. Se for algo aparentemente impossível, não desista. Deverá deixar claro, no entanto, a parte do trabalho que poderia resolver e aquela em que teria maior dificuldade. Falar positivamente sobre o que você pode fazer e o que exigirá um suporte maior da equipa causa boa impressão.

 

Como ensinar as pessoas a lidar melhor com a adversidade?
P. S. - A saída é educar os seus filhos desde pequenos para que possam encarar todos os tipos de adversidade. Você tem que os deixar enfrentar as dificuldades, ajudando-os a tomar consciência das adversidades. Deve esclarecer que muitas vezes eles poderão resolver situações aparentemente impossíveis. Mostre que há oportunidades na dificuldade.

O que pensa sobre o quociente de maturidade? (este quociente não existe, inventávamos, só para ver a reação...)
P. S. - Enfrentar as adversidades é uma forma de tornar as pessoas mais maduras. Uma pessoa que não enfrenta os imprevistos não pode ter um quociente de maturidade elevado.

O que faria se visse uma tartaruga com a barriga para cima no deserto?
P. S. - Mais do que pegar nela e virá-la de barriga para baixo, a questão é dar-lhe os instrumentos para que possa encontrar a posição certa. Pegar na tartaruga e colocá-la na posição certa não vai ajudá-la a desenvolver habilidades…

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